Quando a novela Vale Tudo chegou às telas da TV Globo em 1988, ninguém imaginava que um único disparo mudaria a história da teledramaturgia brasileira. Na noite de Natal, 25 de dezembro, a vilã Odete Roitman, interpretada pela inesquecível Beatriz Segall, foi abatida a tiros. O mistério sobre quem puxou o gatilho virou febre nacional, gerando discussões em cafés, corredores de trabalho e até nas bancas de jornais.
O elenco ainda reunia Glória Pires como a ambiciosa Leila, Regina Duarte como a íntegra Maria de Fátima e Antônio Fagundes no papel do empresário Marco Aurélio. Cada personagem trouxe uma camada de suspeita, mas foi o tiro — registrado em câmera lenta — que assustou o país inteiro.
O contexto de Vale Tudo
Produzida por Gilberto Braga e Leonardo Guerra, a trama abordava os limites da ética nos negócios e na vida pessoal, refletindo o Brasil pós‑ditadura. O conflito entre o “tudo vale” das grandes corporações e o idealismo dos personagens de classe média fez a novela ressoar profundamente com o público da década de 80.
Em termos de produção, a emissora investiu pesado em locações no Rio de Janeiro, com cenas marcantes nas avenidas da Zona Sul e no luxuoso apartamento de Odete, símbolo de poder e ostentação.
O assassinato de Odete Roitman
Na madrugada de 25/12/1988, Odete entrou no corredor do prédio onde morava e foi surpreendida por uma série de disparos. A câmera capturou a expressão de choque, seguida por um silêncio que pareceu congelar o Brasil inteiro. O roteiro não revelou o autor do crime; ao invés disso, o mistério foi alimentado por diálogos enigmáticos e pela presença de múltiplos possíveis suspeitos.
Na época, Manoel Alves, diretor de fotografia, contou ao Jornal O Globo que a escolha por não mostrar o assassino foi estratégica: queria manter o público colado na tela, gerando discussões nas redes de rádio e nas casas de família.
A revelação do culpado
Depois de dezenas de episódios de especulação, o último capítulo exibido em 16 de janeiro de 1989 trouxe a tão esperada resposta: a responsável foi Leila, personagem vivida por Glória Pires. A cena, em que Leila aponta a arma para Odete, foi acompanhada por um silêncio ensurdecedor de telespectadores que, segundo pesquisa da IBOPE, registrou pico de audiência de 71,5%.
Na ocasião, a própria Beatriz Segall declarou ao programa Vídeo Show que o impacto da morte foi “uma marca que ficará para sempre na história da TV”.

Repercussão nacional e legado
O interrogatório “Quem matou Odete Roitman?” virou bordão de humor, canções de carnaval e até manchetes de jornais internacionais. Nas redes de conversas de telemarketing da época, operadoras eram treinadas a responder “Não sei, mas o Brasil parou”.
Três décadas depois, o Programa Vídeo Show dedicou um especial “Vale Tudo – 30 anos” que revisitou a cena, trouxe depoimentos inéditos de Regina Duarte e analisou a influência da trama nas reformas de ética empresarial promulgadas nos anos 90.
A nova versão de 2025
Em março de 2025, TV Globo lançou uma releitura da novela, desta vez com a atriz Débora Bloch nos calcanhares de Odete. A roteirista Manuela Dias revelou em entrevista que o assassino da nova trama será “totalmente diferente” do original, prometendo outra avalanche de teorias nas redes sociais.
O primeiro teaser mostrou um personagem misterioso observando a mansão de Odete, mas não expôs seu rosto, reacendendo o frenesi que o público viveu em 1988. Desde então, hashtags como #QuemMataOdete2025 circulam no Twitter, indicando que o mito ainda tem força para mobilizar novas gerações.
O que o futuro reserva?
Analistas de mídia acreditam que o sucesso da nova versão está ligado ao sentimento de nostalgia aliado a uma estratégia de “storytelling interativo”, onde o público pode votar em enquetes que influenciam a escolha do culpado. Se a tática der certo, pode abrir caminho para outras novelas clássicas serem revisitadas com finais alternativos.
Enquanto isso, o legado de Odete Roitman permanece: uma personagem que representa o poder corrosivo e que, mesmo morta, continua a inspirar debates sobre moralidade, mídia e a eterna pergunta que ainda ecoa nos corredores das casas brasileiras: “Quem matou Odete Roitman?”
- Data do assassinato no enredo: 25/12/1988
- Revelação do culpado: 16/01/1989 (Leila – Glória Pires)
- Audiência do episódio final: 71,5% de rating
- Releitura lançada: março de 2025
- Nova intérprete de Odete: Débora Bloch

Frequently Asked Questions
Quem realmente matou Odete Roitman na versão original?
A revelação veio no último capítulo, quando ficou claro que a assassina foi Leila, interpretada por Glória Pires. O tiroteio foi planejado como vingança por negócios falidos envolvendo a família de Odete.
Por que o assassinato de Odete gerou tanto impacto?
Além de ser um cliffhanger incomum para a época, a cena refletia as tensões sociais do Brasil pós‑ditadura: corrupção, ambição e a pergunta “vale tudo”. O suspense virou assunto de mesa de jantar, rádio e imprensa, atingindo picos de audiência inéditos.
Como a nova versão de 2025 difere da original?
A releitura traz Débora Bloch como Odete e, segundo a roteirista Manuela Dias, o assassino será alguém completamente diferente, permitindo novas teorias e interação do público via enquetes digitais.
Qual foi a reação da atriz Beatriz Segall ao final da trama?
Em entrevista ao Vídeo Show, Beatriz Segall disse que o fim foi “um marco que ficará para sempre na história da TV” e que a repercussão a fez sentir o peso de ter criado uma das vilãs mais recordadas da TV brasileira.
O que especialistas dizem sobre a importância cultural de Vale Tudo?
Professores de Comunicação da Universidade de São Paulo apontam que a novela foi pioneira ao misturar crítica social com drama familiar, criando um modelo que influenciou produções posteriores e ainda serve de referência em estudos de mídia.
Arlindo Gouveia
outubro 5, 2025 AT 03:10É realmente fascinante observar como um simples ponto narrativo pode desencadear debates transcendentais sobre moralidade e poder. Ao analisar a trama de “Vale Tudo”, percebe‑se que a morte de Odete Roitman funciona como um espelho deformado da sociedade brasileira dos anos 80, refletindo a ambição desmedida e a ética em colapso. Essa perspectiva convida o leitor a questionar não apenas quem puxou o gatilho, mas também quais valores foram sacrificados no altar do sucesso. Assim, o suspense se torna um convite ao exame crítico das próprias convicções.