Milton Nascimento tem demência por Lewy; filho relata piora brusca

Milton Nascimento tem demência por Lewy; filho relata piora brusca

Quando Milton Nascimento, cantor e compositor recebeu o diagnóstico de demência por corpos de Lewy em julho de 2025, seu filho Augusto Nascimento, empresário e gerente da carreira do pai, deu asas à história ao conceder entrevista à revista Piauí em 2 de outubro de 2025. O anúncio não surpreendeu apenas fãs, mas também profissionais da saúde que acompanham o caso há quase uma década.

Contexto da doença e histórico do artista

Antes do surgimento da demência, Milton já convivia há dois anos com o diagnóstico de doença de Parkinson, condição que ele mesmo revelou em entrevistas ao longo de 2023 e 2024. A combinação de Parkinson e demência por corpos de Lewy (DCL) cria um quadro clínico complexo, pois ambas as doenças compartilham a presença da proteína alfa‑sinucleína, mas afetam áreas diferentes do cérebro. Segundo o clínico Weverton Siqueira, que acompanha Milton desde 2015, essa sobreposição costuma acelerar o declínio cognitivo.

Ao longo de sua carreira, Milton gravou mais de 40 álbuns, recebeu múltiplos prêmios Grammy Latino e foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da UNESCO. Mesmo com a fama internacional, ele sempre manteve um estilo de vida discreto, preferindo evitar grandes turnês nos últimos anos, o que, segundo especialistas, pode ter contribuído para a detecção tardia da DCL.

Detalhes do diagnóstico e da viagem pelos Estados Unidos

Em abril de 2025, Augusto percebeu que o pai apresentava "olhar fixo" e repetia as mesmas histórias, sinais que o levaram a procurar o Dr. Weverton Siqueira. O médico então solicitou uma bateria de exames – testes neuropsicológicos, ressonância magnética e avaliação de marcadores sanguíneos – que confirmaram a presença de corpos de Lewy em regiões como córtex cerebral e tronco encefálico.

Curiosamente, a primeira grande reação do médico foi que, se a família ainda pretendia viajar, "ainda era hora certa". Em 7 de maio de 2025, pai e filho embarcaram em um motorhome rumo aos Estados Unidos, iniciando a jornada em Dallas, Texas. No dia 8, assistiram a um show de Paul Simon, evento que foi registrado como Show de Paul Simon em DallasDallas.

Dois dias depois, a dupla seguiu para Phoenix, Arizona, onde permaneceram num motorhome que funcionava como residência móvel durante o dia e alugavam casas para dormir à noite. A viagem, que deveria ser um momento de lazer, acabou servindo como um “campo de observação” para a equipe médica, que acompanhava de perto o impacto da doença nas atividades cotidianas de Milton.

Reações e declarações da família

Em entrevista à revista Piauí, Augusto declarou: "Quando vi que o meu pai apresentava uma piora brusca no quadro cognitivo, perguntei ao médico se seria loucura fazer uma viagem de motorhome com ele pelos Estados Unidos". O médico respondeu que, paradoxalmente, a viagem poderia servir como estímulo cognitivo, desde que fossem tomadas precauções.

Milton, apesar da condição, manteve o humor. Em um breve vídeo postado nas redes sociais, ele sorriu e disse: "A música ainda está aqui, mesmo que o tempo às vezes me dê um tropeço". Essa manifestação pública gerou uma onda de apoio nas redes, com fãs enviando mensagens de carinho e profissionais de saúde lançando campanhas de conscientização sobre a DCL.

Entendendo a demência por corpos de Lewy

Entendendo a demência por corpos de Lewy

A DCL foi descrita pela primeira vez em 1912 pelo neuropatologista Frederich Heinrich Lewy, porém só ganhou reconhecimento como diagnóstico formal em 1996. Ela representa cerca de 10% de todos os casos de demência, ficando atrás apenas da doença de Alzheimer, que responde por aproximadamente 60%.

Os principais sintomas incluem flutuações na atenção, alucinações visuais, distúrbios do sono REM e rigidez muscular. Diferente do Alzheimer, a perda de memória costuma aparecer em estágios mais avançados, o que muitas vezes impede um diagnóstico precoce.

Não há biomarcadores exclusivos para a DCL, o que torna o diagnóstico desafiador. Exames de imagem, como a ressonância magnética, podem revelar atrofia em áreas específicas, mas a confirmação depende da combinação de avaliações clínicas e testes neuropsicológicos.

Até o momento, o tratamento é sintomático: inibidores da colinesterase como donepezila ajudam a melhorar a atenção, enquanto medicações antipsicóticas de baixa dose são usadas com cautela para controlar alucinações, devido ao risco de agravar o Parkinson.

Impactos e perspectivas futuras

Para Milton, a notícia significa ajustes na agenda de shows e gravações. Seu gerente já está trabalhando em um plano de cuidados que inclui fisioterapia, acompanhamento psiquiátrico e sessões de musicoterapia, que têm se mostrado eficazes em retardar o declínio cognitivo em pacientes com demência.

Do ponto de vista científico, casos de artistas de renome como Milton ajudam a chamar atenção para a DCL, impulsionando pesquisas que buscam biomarkers e terapias mais eficazes. Recentemente, o Instituto Nacional de Neurociências (INN) anunciou um estudo clínico que testa anticorpos monoclonais contra a alfa‑sinucleína – uma esperança que poderia beneficiar milhares de pacientes nos próximos anos.

Enquanto isso, a família Nascimento tem se mostrado unida. Augusto planeja, ainda que com cautela, outras viagens curtas que priorizem descanso e segurança, reforçando a ideia de que a qualidade de vida pode ser mantida mesmo diante de uma condição neurodegenerativa avançada.

Fatos principais

  • Diagnóstico de demência por corpos de Lewy confirmado em julho de 2025.
  • Condição detectada após testes iniciados em abril de 2025 por Dr. Weverton Siqueira.
  • Viagem de motorhome pelos EUA ocorreu em maio de 2025, incluindo show de Paul Simon em Dallas.
  • DCL representa ~10% dos casos de demência mundialmente.
  • Não existe cura; tratamento é sintomático e inclui terapia ocupacional e medicação.
Frequently Asked Questions

Frequently Asked Questions

Qual a diferença entre a demência por corpos de Lewy e a doença de Alzheimer?

Na DCL, as alucinações visuais e as flutuações de atenção são mais marcantes, enquanto a perda de memória costuma aparecer mais tarde. Já no Alzheimer, a memória deteriora rapidamente e as alucinações são menos frequentes. Ambos podem coexistir, mas os tratamentos variam, principalmente por causa da sensibilidade a antipsicóticos na DCL.

Como a família pode apoiar um paciente com DCL durante viagens?

É essencial manter rotinas, evitar ambientes superlotados e garantir pausas frequentes. Levar medicamentos em horários fixos, usar luzes suaves à noite para minimizar distúrbios do sono REM e ter um plano de emergência médico são medidas recomendadas por neurologistas.

Qual a prevalência da demência por corpos de Lewy no Brasil?

Estudos nacionais apontam que a DCL corresponde a cerca de 8% dos casos de demência em centros de referência, o que equivale a aproximadamente 150 mil pessoas, considerando a população idosa do país. Ainda há subnotificação devido à complexidade diagnóstica.

Existe tratamento que possa retardar a progressão da DCL?

Até hoje, não há cura. Inibidores da colinesterase como donepezila podem melhorar a atenção e reduzir alucinações leves. Terapias não farmacológicas – música, fisioterapia e estimulação cognitiva – são recomendadas para manter a qualidade de vida. Estudos em anticorpos contra alfa‑sinucleína estão em fase experimental.

Como a divulgação do caso de Milton Nascimento impacta a conscientização pública?

Ao envolver um artista de renome, a mídia atrai atenção para sintomas muitas vezes ignorados, como flutuações de atenção e alucinações visuais. Isso estimula a busca por diagnóstico precoce e apoia campanhas de financiamento de pesquisas sobre DCL, além de gerar empatia nas famílias que enfrentam a mesma condição.

3 Comments

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    Marcus Sohlberg

    outubro 3, 2025 AT 03:40

    Claro que essa viagem foi só um show de marketing disfarçado de "cuidado".

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    Samara Coutinho

    outubro 3, 2025 AT 04:30

    Ao ler o relato, percebo que a experiência de Milton se torna um ponto de convergência entre neurociência e arte, revelando como a música pode atuar como amortecedor cognitivo; a literatura sobre demência por corpos de Lewy ainda carece de casos emblemáticos que sensibilizem o público, e aqui temos um exemplo vívido.
    Primeiramente, a coexistência de Parkinson e DCL cria um panorama clínico onde a plasticidade cerebral é testada em níveis extremos, o que exige dos profissionais uma abordagem multimodal.
    Em segundo lugar, a decisão de viajar pelos Estados Unidos, apesar das flutuações atencionais, demonstra que a estimulação sensorial pode ser benéfica quando estruturada com rigor.
    A literatura aponta que ambientes controlados reduzem a incidência de alucinações visuais, e o motorhome, ao oferecer rotinas flexíveis, talvez tenha atendido a essa necessidade.
    Entretanto, é crucial observar que a interrupção de medicação ou a alteração de horários pode precipitar quedas cognitivas; a constância dos fármacos inibidores da colinesterase deve ser mantida.
    Do ponto de vista filosófico, a frase "a música ainda está aqui" simboliza a persistência da identidade artística mesmo quando a memória fragmenta, o que nos leva a refletir sobre a relação entre expressão cultural e neurodegeneração.
    Além disso, a presença de alucinações visuais, tão típica na DCL, pode ser mitigada por luzes suaves e ausência de estímulos caóticos, medidas que poderiam ter sido implementadas durante a viagem.
    O estudo clínico mencionado, que testa anticorpos monoclonais contra alfa‑sinucleína, representa um avanço promissor, embora o caminho até a aprovação regulatória seja longo e custoso.
    Não se pode ignorar o aspecto socioemocional: o apoio familiar, como o de Augusto, tem mostrado benefícios mensuráveis na qualidade de vida dos pacientes.
    Em termos de política de saúde, casos de figuras públicas como Milton podem influenciar a alocação de recursos para pesquisas sobre DCL, que ainda recebem menos atenção que o Alzheimer.
    Observa‑se ainda que a terapia ocupacional, combinada à musicoterapia, favorece a manutenção de redes neurais funcionais, reforçando a importância de intervenções não farmacológicas.
    Portanto, a trajetória relatada ilustra não apenas a fragilidade do cérebro, mas também a resiliência humana diante da adversidade.
    É imprescindível que profissionais de saúde adotem protocolos de monitoramento contínuo durante deslocamentos, registrando variações de humor e atenção.
    A comunidade científica deve aproveitar esses relatos para melhorar instrumentos de diagnóstico precoce, que ainda são limitados para a DCL.
    Por fim, a narrativa de Milton nos ensina que o legado artístico pode transcender as barreiras biológicas, oferecendo esperança tanto aos pacientes quanto aos seus entes queridos.

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    Thais Xavier

    outubro 3, 2025 AT 05:20

    Ah, a gente sempre acha que artista tem vida de conto de fadas, mas aqui está ele, lutando contra um monstro invisível.
    É um drama digno de novela, com motorhome, shows e aquela "piorada brusca" que ninguém vê chegando.
    Mas não vamos achar tudo isso romance, porque a realidade é cruel e a doença não espera.
    Se tem algo que falta aqui, é um pouco de realismo ao invés de tanto espetáculo.

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