Quando Alfredo Cotait Neto, presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) anunciou que o Painel Gasto BrasilSão Paulo registrou despesas públicas de R$ 3 trilhões, a notícia chegou como um choque para quem acompanha as contas federais.
Na mesma data, o Impostômetro, ferramenta de duas décadas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), mostrou arrecadação de R$ 2,27 trilhões, gerando um vazio de mais de R$ 700 bilhões entre receita e gasto. O que isso significa para o cidadão comum? Basicamente, menos dinheiro para investimentos públicos e maior pressão sobre juros e possíveis novos tributos.
Contexto histórico das contas públicas
Desde o início da década, o Brasil vem acumulando déficits estruturais. Em 2020, as despesas totalizaram cerca de R$ 1,8 trilhões, enquanto a arrecadação ficou em R$ 1,6 trilhões. Avançando para 2023, o desequilíbrio já ultrapassava R$ 400 bilhões. O salto para R$ 700 bilhões em 2025 não é, portanto, um acidente, mas a continuação de um padrão de crescimento de gastos que supera a capacidade arrecadatória.
Especialistas apontam que, além da pandemia, a combinação de políticas de estímulo e a falta de reformas fiscais robustas ajudaram a exacerbar a situação. O aumento dos gastos com saúde, assistência social e energia elétrica – especialmente após a crise de abastecimento de 2024 – adicionou peso ao cenário.
Detalhes dos números de gasto e arrecadação
O gasto público de R$ 3 trilhões divulgado pelo Painel Gasto Brasil se divide da seguinte forma: R$ 1,25 trilhão da União, R$ 826 bilhões dos estados e o restante dos municípios. Já o Impostômetro desagrega a arrecadação em R$ 1,02 trilhão federal, R$ 721 bilhões estadual e R$ 529 bilhões municipal.
- Despesas da União: +12,3% comparado a 2024.
- Arrecadação federal: +5,8% graças à taxação de offshore e ao aumento do IOF.
- Déficit total: R$ 730 bilhões, equivalente a 2,4% do PIB.
Além disso, o Diário do Comércio trouxe à tona dados que indicam que, se a tendência continuar, as despesas podem alcançar R$ 3,98 trilhões até o fim de 2025, quase R$ 1,5 trilhões acima da arrecadação prevista.
Reações dos líderes empresariais
O presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Roberto Ordine, respondeu com preocupação: "Só espero que ele não queira transformar essa diferença em novos impostos, porque já não aguentamos mais. O setor produtivo espera que essa palavra aumento de impostos desapareça do nosso dicionário".
Já Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da ACSP, reforçou: "Esse descompasso entre receitas e despesas representa um desafio sério para as contas públicas. O país já opera no vermelho antes mesmo de considerar os juros da dívida, o que pressiona a necessidade de ajustes estruturais para garantir a sustentabilidade fiscal".
Essas declarações foram acompanhadas por empresários que, nas redes sociais, alertam que o cenário pode desencadear um "ciclo de endividamento" para pequenas e médias empresas, que dependem de crédito barato para sobreviver.

Impactos econômicos e análises de especialistas
Analistas do mercado financeiro apontam que o déficit de R$ 700 bilhões pode forçar o Tesouro a emitir mais títulos da dívida interna, elevando o preço dos juros de longo prazo. Em entrevista ao Valor Econômico, a economista-chefe do Banco Safra, Mariana Leite, afirmou que "a pressão sobre a taxa Selic pode subir novamente, o que vai encarecer empréstimos para consumidores e empresas".
Além disso, a revisão de políticas tributárias – como a taxação de fundos exclusivos, a cobrança sobre apostas online e a chamada "taxa das blusinhas" para encomendas internacionais – aumentou a arrecadação, mas não conseguiu equilibrar o rombo. Essa situação gera um dilema: manter os tributos elevados ou cortar gastos em áreas críticas como saúde e educação.
Perspectivas e próximos passos
O governo federal ainda não divulgou um plano detalhado para fechar o déficit. No entanto, fontes próximas ao Ministério da Fazenda indicam que o próximo relatório do Tesouro, previsto para outubro, trará propostas de corte de despesas não essenciais e a revisão de subsídios setoriais.
Para o setor privado, a mensagem é clara: acompanhar de perto os indicadores fiscais e preparar estratégias de gestão de risco. O Conselho Nacional de Empresários (CNE) já sinalizou que vai organizar uma mesa de negociação com representantes do governo, CACB e ACSP antes do fim do ano.
E, por fim, a população precisa ficar atenta ao impacto nos serviços públicos. Se o déficit persistir, pode haver atrasos em investimentos em infraestrutura, o que repercute diretamente no preço dos combustíveis e na qualidade dos serviços de saúde.

Como acompanhar os números em tempo real
A ferramenta Gasto Brasil está disponível online e atualiza, a cada hora, os gastos da União, dos estados e dos municípios. Já o Impostômetro oferece filtros por tributo, região e período, facilitando a visualização de onde o dinheiro está sendo arrecadado.
Para dúvidas de imprensa, a ACSP indica Cesar Bruneli ([email protected]) e Alex Sallai ([email protected]).
Perguntas Frequentes
Como esse déficit afeta os empreendedores?
O déficit pressiona o governo a buscar fontes adicionais de receita, o que pode resultar em novos tributos ou aumento das alíquotas existentes. Para os empreendedores, isso significa custos operacionais mais altos, crédito mais caro e menor margem de investimento.
Qual a principal causa do aumento da arrecadação?
A principal causa foi a ampliação da base tributária: taxação de fundos offshore, cobrança sobre apostas online, a "taxa das blusinhas" para importações e o aumento gradual do IOF e do ICMS. Essas medidas elevaram a arrecadação, mas ainda não compensam o crescimento dos gastos.
O que o governo pretende fazer para fechar o déficit?
Até o momento, não há um plano oficial publicado. Fontes do Ministério da Fazenda sugerem cortes em despesas não essenciais, revisão de subsídios e possivelmente a criação de um "fundo de equilíbrio fiscal" para reduzir a necessidade de novos impostos.
Qual o impacto esperado nos juros da dívida pública?
Com o déficit em alta, o Tesouro pode ser obrigado a emitir mais títulos, o que tende a elevar o juro de longo prazo. Isso encareceria empréstimos para empresas e consumidores, pressionando o crescimento econômico.
Como a população pode acompanhar esses dados?
Acompanhar o portal Gasto Brasil e o Impostômetro (ambos disponíveis online) permite ver em tempo real as despesas e a arrecadação por esfera de governo, tributo e região, trazendo transparência ao debate público.
Cris Vieira
outubro 9, 2025 AT 01:23Os números do Gasto Brasil são alarmantes, mas ainda precisamos analisar a evolução trimestral. O déficit de R$ 700 bilhões representa um salto significativo em relação a 2024. Se a tendência continuar, a dívida pode ultrapassar limites críticos para a sustentação das políticas públicas. Vale acompanhar as próximas divulgações do Tesouro para entender as medidas corretivas.