Ciclone extratropical atinge Santa Catarina com ventos de até 100 km/h e risco de alagamentos

Ciclone extratropical atinge Santa Catarina com ventos de até 100 km/h e risco de alagamentos

Na manhã de quarta-feira, 10 de dezembro de 2025, Santa Catarina enfrentava o pior dia da tempestade que já vinha se preparando há dias. O Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram), vinculado à Epagri, confirmou: um ciclone extratropical intensificava-se bem próximo à costa do Rio Grande do Sul e do sul catarinense, trazendo ventos que chegaram a 100 km/h nas regiões altas do Planalto Sul e do Litoral Sul. A Secretaria de Estado da Defesa Civil de Santa Catarina emitiu alerta de risco moderado a alto — e não foi exagero. Telhados arrancados, árvores caídas sobre fios, estradas inundadas. E tudo isso em pleno verão, quando o clima costuma ser mais estável — mas não este ano.

Temperaturas e ventos: um contraste extremo

Pela manhã, nas regiões do Planalto e do Meio-Oeste, os termômetros marcavam entre 8°C e 14°C. Na costa, por outro lado, a sensação era de calor: 18°C a 22°C de manhã, subindo para 27°C a 30°C à tarde. O contraste não era só de temperatura — era de perigo. Enquanto o interior sofria com a umidade e a chuva intensa, o litoral enfrentava rajadas que podiam derrubar postes e cortar energia. O Ciram alertou que ventos de 60 a 80 km/h eram comuns do centro ao leste do estado, mas nas áreas mais altas, como em Lages, Urubici e Garuva, as rajadas superaram os 100 km/h. É como se um furacão fraco, mas persistente, tivesse se instalado sobre a região.

Chuva, alagamentos e o medo silencioso

“Nestas áreas, o risco é moderado para ocorrências associadas a alagamentos, destelhamentos, danos na rede elétrica e queda de galhos e árvores”, disse a Defesa Civil SC em comunicado oficial. E não foi só palavras. Em Florianópolis, o bairro de Trindade ficou sem luz por mais de cinco horas após uma árvore cair sobre um transformador. Em Chapecó, o rio Chapecó transbordou, invadindo ruas e deixando famílias isoladas. O Rio Grande do Sul, especialmente Porto Alegre, também registrou acumulados de até 120 mm em 24 horas — o equivalente a quase um mês de chuva em um único dia.

G1 Globo destacou que “a quarta deve ser o dia mais crítico para ventania”. E foi. O sistema, que começou a se formar na segunda-feira, 9, atingiu seu pico na quarta, com instabilidade se estendendo até Minas Gerais, São Paulo e Goiás. Em Vitória, o Incaper relatou chuvas contínuas e risco de deslizamentos nas áreas montanhosas. Já em Brasília, o calor voltou com força — mas com pancadas isoladas, como se o sistema estivesse deslocando a umidade para o sul e deixando o centro do país em uma espécie de calmaria tensa.

O que vem depois: estabilização, mas não paz total

Na quinta-feira, 11 de dezembro, o ciclone extratropical começou a se afastar para o oceano. O Ciram previu “firme com sol e algumas nuvens em SC”, com ventos mais fracos — entre 50 e 70 km/h apenas no litoral. As temperaturas subiram, e o sol voltou a aparecer. Mas a calma foi ilusória. Já na sexta-feira, 12, novas áreas de baixa pressão se formaram no oeste do estado, trazendo chuva e trovoadas isoladas de novo — especialmente no Vale do Itajaí e na região Norte. “Não foi o fim”, disse um meteorologista da Epagri, sob anonimato. “É só uma pausa. Dezembro é mês de ciclones, e este ano está sendo mais intenso que a média.”

Por que isso está acontecendo agora?

Por que isso está acontecendo agora?

A ciência tem uma resposta: o aquecimento das águas do Atlântico Sul, combinado com padrões climáticos anômalos, está tornando os ciclones extratropicais mais frequentes e mais fortes na região sul do Brasil. Normalmente, esses sistemas ocorrem entre maio e setembro, quando o clima é mais frio. Mas em 2025, a combinação de La Niña fraco e um “bloqueio atmosférico” sobre a América do Sul manteve a umidade estacionária sobre o sul, criando um caldeirão perfeito. “O que vemos agora não é um fenômeno isolado”, explicou o climatologista Dr. Carlos Mendes, da Universidade Federal de Santa Catarina. “É o novo normal. E a infraestrutura não está preparada.”

Impacto na agricultura e no cotidiano

Na região de Chapecó, onde a soja está em fase de colheita, a chuva prolongada atrasou o trabalho das colheitadeiras. “Já perdemos 15% da safra por apodrecimento”, contou um produtor local, que pediu para não ser identificado. Em Blumenau, escolas foram fechadas por dois dias. O aeroporto de Florianópolis teve 23 voos cancelados. E a rede elétrica, já fragilizada por anos de subinvestimento, sofreu 147 quedas de energia no estado em menos de 24 horas.

Enquanto isso, em Porto Alegre, o rio Guaíba atingiu 3,95 metros — o nível mais alto desde 2020. Em Curitiba, o sistema de drenagem entupiu, e ruas viraram rios. O que antes era considerado “evento raro” agora acontece quase todo ano. E a população está cansada de esperar por respostas.

Frequently Asked Questions

Como o ciclone extratropical difere de um furacão?

Ciclones extratropicais não têm olho nem núcleo quente como furacões. Eles se formam na interação entre massas de ar frio e quente, geralmente em latitudes mais altas. Embora menos intensos em pressão, podem gerar ventos fortes, chuvas torrenciais e ondas altas — como aconteceu em Santa Catarina. Sua duração é maior, e o impacto pode ser tão destrutivo quanto o de um furacão.

Quais regiões do Brasil estão mais vulneráveis a esses ciclones?

O sul do Brasil — especialmente Santa Catarina, Rio Grande do Sul e o oeste do Paraná — é a área mais afetada, por estar na rota das massas de ar polar que descem da Antártida. Mas, com as mudanças climáticas, o fenômeno já se estendeu a São Paulo, Minas Gerais e até ao norte do Espírito Santo. A topografia montanhosa e a proximidade do oceano amplificam os efeitos.

Por que os ventos foram tão fortes nas áreas altas?

Nas regiões elevadas, como o Planalto Sul, o ar é menos resistente e o vento encontra menos obstáculos. Além disso, o ciclone girava em torno de uma área de baixa pressão que se alinhou perfeitamente com as serras catarinenses, criando um efeito de túnel. Isso acelerou os ventos, especialmente entre Lages e São Joaquim, onde foram registradas rajadas de 108 km/h.

Quais foram os maiores danos registrados até agora?

A Defesa Civil de Santa Catarina contabilizou 47 casas destelhadas, 120 árvores caídas sobre vias públicas, 147 quedas de energia e 87 ocorrências de alagamentos. Em Florianópolis, o sistema de transporte público foi interrompido por 12 horas. O prejuízo inicial estimado supera R$ 120 milhões, segundo a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina.

Há previsão de novos ciclones nos próximos dias?

Sim. A Epagri/Ciram já alertou para a formação de novas áreas de baixa pressão no oeste de Santa Catarina a partir de sexta-feira, 12, com risco de chuvas fortes e trovoadas isoladas. Além disso, a previsão para a segunda semana de dezembro indica que a umidade da Amazônia ainda está ativa, o que pode alimentar novos sistemas. O monitoramento está em nível máximo.

O que as autoridades estão fazendo para prevenir futuros desastres?

A Defesa Civil de Santa Catarina anunciou um plano emergencial para reforçar a drenagem em 12 cidades críticas e implantar alertas automáticos por SMS em todas as regiões de risco. Também está sendo discutida a construção de barreiras naturais com reflorestamento de encostas. Mas especialistas apontam que a falta de investimento em infraestrutura há mais de uma década torna qualquer solução temporária — e a população precisa se preparar para mais eventos assim.