Com o cessar-fogo de 42 dias que entrou em vigor em 13 de outubro de 2025, cerca de António Guterres, secretário‑geral das Nações Unidas anunciou que "povos de Gaza e Israel começam a vislumbrar a frágil esperança de calma". A primeira fase do acordo permitiu que mais de 310 mil palestinos deslocados retornassem ao norte da Faixa, especialmente à Gaza City, mas logo se depararam com ruínas de casas, escolas e hospitais. O tratado, assinado em Cairo por Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, e pelos mediadores egípcio, qatariano e turco, deixa aberto o futuro da região e levanta a mesma pergunta que ecoa nas ruas: "para onde vamos voltar?"
Contexto histórico do cessar-fogo
O caminho até o acordo começou em dezembro de 2024, quando Benjamin Netanyahu, primeiro‑ministro de Israel, viajou a Cairo para abrir negociações. As conversas avançaram rapidamente, com a Hamas e Israel permanecendo nas linhas de frente do impasse.
Após várias rodadas secretas, o texto final foi apresentado em 13 de janeiro de 2025 e recebeu aprovação final do gabinete israelense em 17 de janeiro. Contudo, nem Israel nem Hamas compareceram à cerimônia de assinatura em 13 de outubro, quando o presidente americano e os representantes de Egito, Qatar e Turquia formalizaram o pacto.
Detalhes da primeira fase e o fluxo de retorno
A primeira fase, ativada no próprio dia 13 de outubro, exigiu a libertação de 33 reféns israelenses – incluindo todos os crianças menores de 19 anos, mulheres civis e idosos – por parte da Hamas. Em contrapartida, Israel comprometeu-se a libertar 30 prisioneiros palestinos por cada prisioneiro israelense liberado, segundo a UN OCHA (Escritório de Coordenação Humanitária das Nações Unidas).
Entre 10 e 12 de outubro, equipes de ajuda registraram quase 310 mil deslocamentos de sul para norte, além de 23 mil movimentos em outras direções. A maioria desses deslocamentos convergiu para áreas como a Gaza City e as localidades ao redor da Rodovia Salah al‑Din, onde os postos de controle foram desmontados ao longo do dia 13.
Reações de líderes e da população
Na imprensa internacional, a apresentadora da Globo, Fernanda Torres, descreveu as comemorações nas ruas de Gaza e Tel Aviv como "inacreditáveis". Enquanto isso, o ministro das Relações Exteriores do Egito, Badr Abdelatty, destacou que "o cessar‑fogo abre uma janela para monitoramento conjunto da retirada militar israelense, que já começou na zona norte".
A comunidade palestina, por sua vez, tem medo: o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, alertou que "o retorno em massa para casas destruídas exige reconstrução em massa, algo que ainda falta". O coordenador humanitário da ONU em Gaza, Jamie McGoldrick, qualificou a situação como "inabitável sem reconstrução massiva".

Desafios humanitários e infraestrutura
Os números pintam um quadro sombrio: a UN‑Habitat contabiliza 176 mil casas totalmente destruídas ou gravemente danificadas; o UN Mine Action Service estima que 40% do norte de Gaza está contaminado por munições não detonadas; e a OMS aponta que apenas 10% da capacidade de saúde pré‑guerra ainda funciona.
Além disso, o WFP (Programa Mundial de Alimentos) disse que restam apenas 37 padarias operando para atender uma população de 2,3 milhões de habitantes. O diretor do WFP, Cindy McCain, alertou que "sem farinha e energia, até o pão se torna luxo".
Perspectivas para as próximas fases
O acordo prevê duas outras fases, cada uma com 42 dias de duração. A segunda fase deve focar na libertação adicional de prisioneiros palestinos e na consolidação de um "calmo sustentável". Já a terceira etapa contempla a retirada total das forças israelenses, o fim do bloqueio terrestre e a abertura de corredores humanitários monitorados por equipes americanas e egípcias, com base em El Arish, no Egito.
Entretanto, a comunidade internacional permanece cautelosa. Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor‑geral da OMS, reiterou que "sem financiamento continuo, nada disso será sustentável". Enquanto isso, o secretário‑geral da ONU continua a apelar por apoio financeiro e político para transformar o cessar‑fogo em "paz duradoura" baseada em duas nações soberanas, com fronteiras de 1967 e Jerusalém como capital compartilhada.

O que vem a seguir?
Nos próximos dias, as forças de monitoramento irão verificar o cumprimento dos termos de retirada. A comunidade humanitária está preparando um plano de reconstrução que pode levar até três anos, mas que já conta com compromissos de doadores europeus e americanos. Para os palestinos que voltam às ruínas, a esperança ainda depende de que as promessas de ajuda se materializem antes que outra rodada de violência reacenda o conflito.
Perguntas Frequentes
Como o cessar‑fogo afeta os deslocados internos?
A suspensão das hostilidades permite que mais de 310 mil deslocados retornem ao norte da Faixa, mas a maioria encontra casas destruídas, falta de água e pouca cobertura médica, exigindo ajuda humanitária urgente.
Quais são as principais exigências da primeira fase do acordo?
A Hamas deve libertar 33 reféns israelenses, enquanto Israel liberta 30 prisioneiros palestinos por cada israelense liberado, além de comprometer a retirada militar gradual do norte de Gaza.
Qual é o papel dos mediadores no processo?
Egito, Qatar e Turquia conduziram as negociações, organizaram a assinatura em Cairo e vão supervisionar a retirada das tropas, garantindo que ambas as partes cumpram os prazos estabelecidos.
Quais desafios humanitários permanecem apesar do cessar‑fogo?
Destruição massiva de moradias, contaminação por munições não detonadas (40% do norte), sistema de esgoto colapsado, apenas 10% da capacidade hospitalar e escassez de alimentos, com menos de 40 padarias operando.
O que esperar das próximas fases do plano?
A segunda fase estimulará mais trocas de prisioneiros e estabilização de segurança; a terceira fase prevê a retirada total das forças israelenses, o fim do bloqueio terrestre e a criação de corredores de ajuda monitorados por equipes egípcias e americanas.
Elisson Almeida
outubro 14, 2025 AT 01:03O cessar‑fogo recentemente implementado introduz um novo paradigma de segurança humanitária na região, facilitando a mobilidade dos deslocados internos e permitindo a reativação dos fluxos logísticos. Entretanto, a infraestrutura crítica permanece comprometida, exigindo a integração de protocolos de monitoramento avançados e a alocação de recursos de reconstrução escalonada. É imprescindível que as agências multilaterais sincronizem seus indicadores de desempenho com as necessidades de base das comunidades afetadas. A estratégia de reconstrução deve incorporar avaliações de risco de minas e de sustentabilidade de serviços públicos, de modo a evitar a recorrência de vulnerabilidades estruturais.